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LISBOA
Não quero, nem vou, avaliar ninguém mas sim o fenómeno das licenciaturas de fim de semana. Parece uma praga esta onda de licenciaturas, mestrados e doutoramentos de fim de semana. Não sou contra a atribuição de equivalências de cursos a vários níveis do nosso sistema de educação às experiências de vida profissional de cada um. Bolonha tem sido debatido ad nauesam e não me proponho adicionar aqui qualquer contributo meu a esse debate.
Mas, sinceramente, tenho um problema muito grande em aceitar que um ou uma profissional, que goze de uma boa posição na vida, com uma carreira profissional bem sucedida, que foi alcançada sem ter tido necessidade de uma licenciatura, ou de outro curso que lhe dê um título, de um momento para o outro, passe a querer esse título para por no seu CV. Acho que esta atitude grassa a uma vaidade pessoal e a uma presunção sem adjectivos. Mas, digamos a verdade, nós vivemos numa sociedade onde os títulos fazem parte dos nossos nomes. Um indivíduo, chamemos-lhe José Fulano de Tal, com um curso de engenharia, não se chama José Fulano de Tal. Chama-se sim, Senhor Engenheiro José Fulano de Tal. Uma mulher portuguesa, a quem vamos dar o nome de Maria de Tal e Coisa, que tenha tirado o curso de Gestão de Empresas, não se chama Maria de Tal e Coisa. Chama-se sim, Senhora Doutora Maria de Tal e Coisa. Quando um ou outro não estão nas suas repartições, somos informados na recepção que o Senhor Engenheiro não está, ou que a Senhora Doutora só vai atender depois das 16:00 horas. Na nossa sociedade não toleramos que a Maria de Tal e Coisa chegue ao serviço às 16:00 horas, mas a Senhora Doutora já pode e até parece ter esse direito. Não toleramos que o José Fulano de Tal não esteja na repartição, mas o Sr. Engenheiro, claro que é um homem muito ocupado, e até tem o direito de não estar onde deve, isto é, na repartição a atender os utentes dessa repartição. Numa sociedade como a nossa, onde não se chamam as pessoas pelos nomes mas pelos títulos, onde não se medem as pessoas pelas qualidades de trabalho, mas pelos títulos, não é de admirar que as leis do mercado, as leis da demanda e da oferta, entrem em funcionamento a favor de licenciaturas de fim de semana. Se nós, porque, digamos de passagem, a nossa sociedade somos nós, apenas respeitamos alguém e até toleramos as suas desmandas só quando essa pessoa tem um título, e não porque tenha competências para exercer o cargo, então esse alguém, esses muitos alguéns, vão querer títulos, muitos títulos. Venham eles. E quantos mais melhor. Concordemos, criámos nós mesmos o monstro e só vejo uma maneira de acabar com o monstro, é cortar a sua alimentação, essa devoção e falso respeito que nutrimos pelos títulos das pessoas. Regras e leis não vão resolver o problema nem acabar com o monstro. Regras e leis só servirão para serem contornadas, desde que se saiba como. De preferência com um título. Fernando Aidos
1 Comment
Gostaria que alguém me explicasse como é que vamos passar do "indignados" para o "acabou a mama".
Um exemplo, se não me falha a memória, os Islandeses cercaram o parlamento e exigiram a demissão de todos. Enquanto isso não aconteceu, o cerco ficou. Os governantes demitiram-se e o país partiu para outra. Mensagem dada aos futuros dirigentes - podem acabar por fazer asneira mas sai-vos muito caro! Gostei! Em Portugal temos de correr com esta corja. Mas qual é a acção firme e específica que os dirigentes dos nossos Indignados do 15 de Outubro propõem? Mais assembleias? Não participo! Mais diálogos demagógicos? Não participo! Mais refilanço público? Não participo! Mais uma greve e/ou distúrbio de rua? Não participo! Srs. Dirigentes dos Indignados: têm de tomar uma posição que tenha pés para andar! A bem de todos nós! Aliás, a bem dos nossos filhos que vão herdar uma salsada completa. Que vão herdar exemplos que não os vão ajudar a mudar o que nós estragámos! Ou aquilo que pelo menos ajudámos a estragar! Ou mesmo aquilo que vimos estragar e nada fizemos para o travar! Esqueçamos os Gregos e os seus molotofs de rua. A Primavera Árabe fez sentido no seu contexto do Norte de África. Vamos falar com os Islandeses. Acho que têm umas lições a dar-nos. Aí eu participo! Fernando Aidos Todos nós sabemos que as coisas não andam bem. E isso preocupa-me tanto quanto preocupa qualquer português que tenha vivido neste planeta durante os tempos mais recentes. Assim como me preocupa a busca de soluções ou de uma solução, uma solução mágica até daria jeito, para todo este emaranhado de problemas que nos rodeiam e nos afectam severamente.
Claro que as coisas é que não andam bem! Nós somos apenas vítimas das coisas e do modo como elas não andam bem. Não é assim? Ou será que as coisas não andam bem porque lhes faltou alguma substância de que necessitam para andarem bem? Esta pergunta tem-me assaltado muito frequentemente embora não tenha cedido a respostas simples. Por isso continua a pairar como uma nuvem escura na minha mente. Tenho tentado debruçar-me sobre as possíveis causas das coisas não andarem bem. Tanto as causas mais tangíveis e mensuráveis, como o défice, a dívida, o desemprego, a pobreza, o abandono das indústrias produtivas, das pescas, da agricultura, e outras tantas mais, como sobre as possíveis causas intangíveis e estas têm-me preocupado também bastante. As causas intangíveis, são aquelas que embora não suscetíveis de serem medidas, pelo menos de um modo directo, espreitam sempre ao virar da esquina, ou entram frequentemente na conversa sempre que se fala das outras causas, aquelas que consideramos tangíveis e de que toda a gente fala. Permitam-me descrever algumas dessas causas intangíveis a que me refiro. A falta de confiança em nós, no próximo, nos governantes, essa maleita que foi herdada, sabemos muito bem de onde e quando, mas que temos de vencer. Não podemos continuar escravos desta falta de confiança em tudo. Não podemos tentar por na lei e no palavreado elaborado dos contratos aquilo que não pode lá estar porque faz parte da confiança, daquilo que os anglo-saxónicos chamam de “trust”, essa base, essa razão porque eu quererei construir algo com uma pessoa e não com outra. Qualquer contrato é como um casamento. Não podemos substutuir por contrato nenhum a confiança que precisamos de ter na pessoa com quem queremos construir um projecto de vida. Sem essa confiança, esse “trust” não adianta começar a escrever um contrato. Os contratos só funcionam quando há uma base sólida de confiança entre as pessoas envolvidas num projecto. Acho que temos de, urgentemente, reconstruir essa confiança em nós e no país. A imprecisão no que dizemos e no que ouvimos. E aqui permitam-me uma afirmação específica sobre a nossa soberania – perdemos a soberania quando o Sr. Silva nos arranjou o crédito fácil, os subsídios da UE. Não a estamos a perder agora com as imposições da Troika. Tal como perdemos os direitos plenos sobre a nossa casa quando pedimos um empréstimo ao banco, e não quando o banco nos pede para pagar o que devemos. Não será assim? Essa imprecisão no nosso palavreado precisa de ser corrigida. Esta imprecisão, por vezes conveniente, leva-nos muitas vezes a uma confusão no que se diz, a uma distorção cada vez mais nefasta dos factos e acaba muitas vezes em afirmações fora de contexto. Esta confusão não é tanto uma causa mas sim uma atmosfera, um ambiente que se estabelece, causada pela imprecisão das nossas afirmações. É destrutiva e precisamos de vencê-la. Todo o ser humano tem, numa ponta do seu ADN, algo que o leva à negação das causas e dos efeitos quase sempre quando não nos convém, ou seja, quando achamos que precisamos de nos proteger de acções inadequadas de que nos acusam. Todos nós conhecemos bem a frase – mas isso não tem nada a ver, pá! Uma afirmação que, diga-se de passagem, por vezes até pode ser bem aplicada, como no caso das vacas contentes do Sr. Silva. Esta negação das causas e dos efeitos leva-nos muitas vezes a desculpas esfarrapadas, aquelas que todos nós aprendemos no nosso tempo de escola quando nos esquecíamos de fazer os trabalhos de casa. Ou, outro exemplo, quando tinhamos prometido a alguém fazer alguma coisa, mas – sabes pá, é que quando eu ia a tratar disso, aconteceu que o vizinho teve uma emergência a que eu tive de acudir. E aqui poderemos enveredar por dois caminhos. Um, o da mentira. O que foi dito simplesmente não aconteceu. O outro, o que também não é produtivo, e que nos diz que nem sequer foi uma emergência. Foi sim uma falta de planeamento por parte do vizinho que se tornou numa emergência da nossa parte. É um fenómeno interessante entre nós, esse em que uma falta de planeamento por parte dos outros, de repente, passa a ser uma emergência da nossa parte. Muito estranho, mas tem de ser superado! Sim, porque a culpa pela falta de planeamento nunca é do vizinho, é nossa, ou mais precisamente, a culpa de qualquer coisa que fazemos nunca é nossa, é do outro, é da Câmara, é da Junta de Freguesia, é de Lisboa, é da Troika, é da Europa, mas nossa... nunca, jamais! Além do mais, esta negação de causas e efeitos leva-nos a uma prejudicial incoerência na nossa maneira de pensar e de agir, porque se alguma vez falamos de causas e efeitos de qualquer coisa que não achamos estar bem, logo essas causas e efeitos deixam de se aplicar, caso nos envolva a nós. Isto resulta num mal estar de instabilidade, dequele sentimento que nos diz – afinal, tem ou não a ver? E não é produtivo! A falta de vinculação às ideias, como por exemplo, achamos por bem que se ponham caixas para o lixo e para a reciclagem em todo o lado. E acho bem. No entanto o nosso hábito de deitar os papéis e as beatas para o chão não nos permitem usar essas caixas pelas quais já pagámos e por cujo serviço de manutenção também continuamos a pagar. Não me parece que seja por falta de caixas de lixo. Estou convicto que é apenas a nossa falta de disciplina que nos leva a este estado de coisas. E mesmo quando cada um de nós tem já o hábito de guardar o lixo até à proxima caixa, temos inibição em chamar um conterrâno à atenção quando este ou esta deita o seu lixo para o chão, porque aceitamos que parvo não é quem deita para o chão, parvo é quem repara e quer corrigir, quer melhorar. Ou não é? E aqui eu pergunto-me, o que é que fez com que a parvoice passasse do meu conterrâneo para mim, quando foi ele que perpetrou a infracção? A inactividade do cidadão esperando que os outros façam. Esta inactividade, esta passividade, não pode senão tornar-se repetitiva ou cíclica. Passa do cidadão para os governantes uma vez que estes são escolhidos por nós e são pessoas como nós, sáidas do nosso meio. Não será? Portanto não é de estranhar, afinal que eles não tenham a mesma atitude do então façam. Então a Europa que faça... mas a Europa não vai fazer aquilo que nos compete fazer. A Europa não nos vai tirar do meio destas coisas que não estão bem. Nós é que teremos de o fazer. Não há como escapar desta realidade. Mas por muito que o leitor ou a leitora concorde com o que eu acabei de escrever, tenho a certeza que vai encontrar algo para rebater, para debater, para aplicar aquela dose de constante contradição, aquilo que é afinal o advogado permanente do diabo, esse desporto nacional tão frequentemente praticado. Não somos capazes de aceitar o que é dito e adicionar mais alguma coisa por cima, reforçando o que nos foi dito. Não! Vamos logo rebater de modo a que nada fique como base para construir um ponto de vista. Realmente, partindo da premissa que os nossos governantes sairam do nosso seio, não é de estranhar que as sessões da Assembleia da República sejam tão contenciosas, tão destrutivas, tão desesperantes. E que todos nós fiquemos com a sensassão de que nada vai ser resolvido, nada vai avançar, porque ao que nos parece, não ficou pedra sobre pedra. Foi tudo demolido na discussão, escepto o que a Troika nos impõe. Ou afinal, talvez tenha sido o nosso bom senso que se perdeu. Não sei onde o perdemos, se é que o perdemos. Porque nós não fizemos isso. Mas sei que se perdeu. Perdeu-se, na terceira pessoa do singular. Coitado! Nesta altura do campeonato, em que as coisas não andam nada bem, sinto que sem uma introspecção, sem um acerto pessoal dos nossos valores, da nossa maneira de actuar, as bases necessárias para melhorar a nossa condição e a do país não estarão lá onde precisam de estar para as que as coisas melhorem. E será muito difícil conseguir encontrar soluções para o que nos aflige tanto. Mas já estou a ouvir o meu amigo – oh pá, mas isso que acabaste de dizer é muito interessante mas não tem nada a ver... Mas eu fico na minha – acho que tem a ver, sim... Fernando Aidos _Todos nós sabemos que há hoje muita coisa que não está bem. E aquilo que ainda está bem continuamos a perder. Perdemos produtividade, perdemos competitividade, perdemos mercados, perdemos postos de trabalho, perdemos reformas, regalias, benefícios, e perdemos bem-estar social.
Estas perdas definem sem dúvida uma crise. Não só económica como também social. Mas aquela a que chamamos de a crise atual só veio trazer à superfície o que já há muito germinava escondidamente à vista de todos. E, atenção! Essa crise que já germinava à vista de todos vem de cá de dentro do nosso país há muitos anos e com muitos contribuintes. É uma crise muito mais nefasta e de muito mais longa vida. O que nos faz colocar a pergunta crucial - conseguiremos mudar o que não está bem? Para mudar o que está mal é preciso fazer e mudar muita coisa, mas há pontos fundamentais que podem ser adotados já, sem demora e que pouco ou nada custam, exceto a vontade de mudar. A título de exemplo, vejamos algumas coisas que precisam e podem ser mudadas de imediato: Assumir a responsabilidade pelos nosso atos – não nos podemos desculpar com os “outros”. É um passa-tempo muito nosso. Temos sempre desculpa para tudo. Não somos culpados de nada. Temos sempre uma visão clarissima do grão de poeira no olho do vizinho, mas não conseguimos ver a trave que se implantou mesmo à fente dos nossos olhos. Fiz mal, assumo! Peço desculpa! Corrijo! E sigo em frente! Orgulhos e defesas da honra são conceitos mal aplicados nestas situações. Abraçar o que importa – para a hora atual temos de consertar o que é preciso consertar. Entregar o produto na hora em que foi prometido. Lidar com o cliente porque dele depende o sucesso da empresa. Lidar com o utente porque dele depende o funcionamento da sociedade. Pagar o que foi pedido emptrestado. O prometido é devido e tem de ser feito. Não nos podemos consumir com atividades secundárias, com jogos de berlinde. Esses são para os intervalos. Querer que os serviços funcionem bem – uma empresa em que os empregados querem que o seu trabalho seja impecável, apreciado e sem remendos, vinga, impõe-se. Outra empresa, a que não deu ao cliente toda a informação necessária e que fez com que a obra se atrazasse, perde credibilidade e perde negócios. Aqui como no estrangeiro. Só se fazem negócios com quem temos confiança. E essa confiança perde-se quando os prazos não são cumpridos. Quando o prometido não é devido... Publicar o conhecimento que temos – as empresas no estrangeiro publicam tudo o que pode atrair clientes aos seus produtos e à empresa. No entanto, as suas representantes portuguesas retêm a informação, não publicam. Basta visitar os sítios na Internet para nos apercebermos deste ponto. Parece um ponto pouco importante, mas é mais um obstáculo para o cliente ter de vencer. As organizações de ensino também não publicam. Têm receio de serem copiados sem autorização? Lamento mas essa informação está disponível na Internet, publicada por entidades estrangeiras, em português. Desejo de manter a infromação ciscunscrita a elites? Lamento desiludir mas as elites estrangeiras têm já publicado e, embora em língua estrangeira, há tradutores digitais que fazem um belo trabalho. Fomentar a dissiminação da ignorância? Se é, é lamentavel porque da ignorãncia não nasce o desenvolvimento nem a criatividade. É difícil de perceber esta barreira ao conhecimento, ao desenvolvimento. Capturar a nossa credibilidade – tudo o que foi dito acima contribui para a nossa cedibilidade, mas o nosso índice de corrupção é realmente nefasto. Atrai o tipo de capital que procura lucros e benefícios a curto prazo. Atrai os que gostam de esquemas e de ilegalidades. Não atrai quem quer investir a longo prazo. Não há mais nada a dizer. Onde há corrupção não há confiança, não há credibilidade, não há longo prazo. Há apenas pequenos curtos prazos sem futuro numa alucinante e infindável sucessão. Ter vontade de mudar – mas temos mesmo! Temos de odiar o que está mal. Odiar ao ponto de querer mudar. Não podemos ficar no queixa-andar. Não podemos deixar que corruptos nos levem a perder. Temos de actuar. Temos de não gostar do que está a acontecer. Temos de não ter apenas pena, mas raiva e um querer férreo para mudar. Se não desejarmos com toda a força não obteremos o que tanta falta nos faz para vencer esta crise. Esta e outras que virão. De tudo o que foi mencionado, a vontade de mudar é a mais importante. Temos de encontrar. Fernando Aidos _Estamos em vésperas de uma greve geral que os sindicatos proclamam mas que pouco ou nada fará para inverter a direcção em que segue a economia e o bem-estar social deste país. Pretende-se que as greves ainda façam sentido na actual conjuntura do mundo o que parece um engano, um anacronismo até.
E neste caso acho que os sindicatos não estão a modernizar-se e a construir sobre o que já conseguiram após longos anos de batalha. Estão a perder terreno, estão a perder credibilidade perante os próprios membros bem como perante os eleitores. Os sindicatos não estão a dinamizar a força que têm. Estão a dispendê-la sem sucesso. Ao mesmo tempo estamos a braços com votações partidárias ao orçamento do estado que têm apenas a ver com o que se espera de um ou outro determinado partido político. A esquerda vota contra, a direita vota a favor, e o centro não vota, o que é um exemplo muito negativo para o eleitor que já pratica a abstenção em grande escala, embora a nossa lei diga que a abstenção não valha nada contra o voto activo. Mas aí temos um exemplo de liderança falida. Numa encruzilhada difícil da vida deste país, um partido a abster-se (no desporto isto chama-se chutar para o canto) com a finalidade de depois ganhar um poder de negociação, diz-se, que não se sabe bem qual é, ou o que poderá vir a ser. Mas no entanto esta abstenção já deixou a sua marca. Deixou na mente do cidadão português uma mensagem muito clara, a de que quando a situação é difícil e exige determinação e coragem a solução é jogar para o canto. Decepcionou-me este partido político. Talvez, afinal, a palavra partido, neste caso e noutros, signifique isso mesmo. Também estamos a presenciar declarações vácuas de certas ordens profissionais que nada têm a ver com o que os cidadãos ou mesmo até os seus associados precisam, mas sim com a proteção dos seus previlegiados, perdendo a perspectiva das necessidades do país no qual trabalham e do qual fazem a sua vida. Temos outras ordens de quem nem se ouve falar porque muito possivelmente nada têm para contribuir neste cenário difícil por que passamos. É pena. Esse silêncio perturba-me um pouco. Mas também temos uma ordem profissional muito activa no dia a dia político deste país a fazer acusações danosas sobre situações que não foram comprovadas como verdadeiras, ao mesmo tempo que não apresentam qualquer actividade em relação a moções que possam levar-nos a vislumbrar o fim das impunidades, dos recursos intermináveis e das prescrições de casos criminosos e outros que escandalizam o país. Mas, diga-se de passagem, se fosse apenas o escândalo, até resultaria em receitas adicionais para os conhecidos jornais da fofoca e várias revistas sociais, mas o problema é que o resultado de todas estas falhas da nossa justiça põe, aliás, mantém, o país na retaguarda da lista dos países que abraçaram a democracia. Dão à democracia uma má reputação. E afinal, o que são as ordens? E para que servem? Para reduzir o número de candidatos às universidades de modo a criar artificialmente uma falta de profissionais que só vai beneficiar financeiramente os que já têm escritório montado? Para criar obstáculos à concorrência aberta, leal e construtiva de outros profissionais que poderiam vir a enriquecer o nosso inventário intelectual? Ou para criar estruturas à semelhança das guilds de tempos idos sem no entanto contribuirem para a boa formação de profissionais em quem o país possa confiar? Se é, parece-me um modelo arcaico que precisa de se desempoeirar e encarar o século XXI com uma mentalidade muito mais aberta. O mesmo tipo de pergunta faço também sobre os partidos políticos. Para que servem os partidos? O que são os comícios políticos? Que função real e construtiva preenchem na vida política deste país? Direi, que benefícios trazem para o bem estar dos que neles se inscrevem ou apenas votam? Preciso que me expliquem porque eu não consigo compilar uma lista, por mais pequena que seja, dos benefícios para o país ou para a sociedade. Parecem-se mais com sociedades fechadas onde se vota por dirigentes que depois vão beneficiar quem neles votou. Em certos ramos do conhecimento isto chama-se de sociedades secretas. Os partidos políticos portugueses não têm objectivos definidos para fomentar a riqueza e o desenvolvimento (eu não falei em crescimento) deste país, nem para o bem estar do cidadão. Andam os partidos, pelo que transpira, agarrados a dogmatismos e siglas que já nada dizem e em nada se assemelham ao que proclamam nos comícios e campanhas eleitorais. Mas apesar de tudo o que me perturba o sono, perturba-me estarmos nas vésperas de uma greve geral com requintes. Como por exemplo, não vamos comprar nada nesse dia. Mas claro, teremos de comprar no dia anterior ou no dia a seguir. Ou então não vamos aderir mas vamos protestar os cortes de benefícios. E já agora, vamos já avisar que vamos aderir à greve. Estejam de sobreaviso... contraditório, não parece? Bom, e nesse dia vamos para as ruas, ou para os centros comerciais, e assim, num rompante de paralização vamos conseguir uma posição firme de negociação? E vamos pedir o quê? Ou vamo-nos cingir a demonstrar indignação e ir para casa depois do jogo? Estas greves, servem para que finalidade construtiva? Acho que sei a resposta, mas não me parece eficiente, ou mais, não me parece eficaz. E os sindicatos defendem isto? São greves à là início do século XX quando se fechavam industrias durante semanas e até meses, mas esta versão é só por um dia porque não temos recursos para mais? Ou porque já não acreditamos que as greves servem para alguma coisa além de expelir um pouco de raiva e zanga reprimida? E os sindicatos incitam a isto? Que confiança terá um sério trabalhador nas capacidades de gestão destes dirigentes que os incitam a perder um dia de trabalho e um dia de remuneração para, fundamentalmente nada? Ao cidadão comum já pouca confiança resta. Estamos na altura certa para reflectir sobre estas perguntas, sobre estes jogos de cadeiras musicais, sobre estes golpes de rins e jogadas para o canto. Quem é que estes dirigentes pensam que estão a convencer? Direi, a enganar? Senhores dirigentes de ordens profissionais, senhores dirigentes de partidos políticos, senhores dirigentes dos sindicatos, acordem para as realidades que vos rodeiam e quebrem os hábitos fora de moda a que estas instituições se agarraram. Porque acredito que o modus operandis destas organizações está a seguir o que era feito porque é assim que se faz e porque é assim que sempre se fez e por isso é assim que se continuará a fazer. Já nos esquecemos dos porquês e assim não vamos longe. Não acredito que este rumo das greves seja um rumo de sucesso. Tem que haver outros mecanismos de influência e até de coação política mais eficazes. É preciso mudar e em certos casos, radicalmente, antes que os radicais tomem conta da situação e nos apresentem soluções que, por muito caóticas que possam parecer, não poderemos recusar porque já não teremos nada a perder. Fernando Aidos Tem corrido uma mensagem, ora em email, ora em facebook, com uns 30 pontos que a Troika queria ou deveria ter feito e não conseguiu. Li e reli o dito documento. Quis contribuir mas não a consegui engrenar no "thinking process" do autor. Por isso resolvi atacar o problema de outra forma, ou seja, criando 6 objectivos para os governantes de Portugal, e em seguida algumas iniciativas que apoiassem esses objectivos.
O que os nossos governantes têm de fazer quanto antes não é pera doce. Esta conjuntura necessita de novas maneiras de pensar. Um novo mind-set, uma mentalidade aberta capaz de ponderar os riscos mas capaz de seguir em frente sem temor. Não poderemos solucionar a situação em que nos encontramos repetindo os passos (nem os coelhos) que nos trouxeram até aqui. Primeiro que tudo temos de identificar com clareza o conjunto de problemas que nos aflige. Depois temos de criar um conjunto de objectivos que por sua vez nos levarão a iniciativas e acções, e estas a resultados mensuráveis e verificáveis. De momento vou, propositadamente, passar por cima da etapa de definição dos problemas que nos rodeiam. A minha razão não é imune a críticas, mas acho que estes têm sido falados e ventilados vezes suficientes para podermos, para o efeito deste arrazoado, passar aos objectivos e iniciativas específicas. Em qualquer destes exercícios há sempre um dilema a considerar que aparece sob a forma do síndrome do ovo e da galinha. Tentei dar prioridade à galinha de modo a que o ovo não seja desprezado mas seja o resultado do esforço da galinha. Aventuro aqui o meu pequeno conjunto de objectivos que considero importantes para Portugal: Criar objectivos nacionais fundamentais 1. Criar uma política económica independente do crescimento do PIB - atingir a auto-suficiência económica e financeira, - fomentar o bem-estar social e a mais-valia social, - conservar o património natural e nacional, - incentivar a sustentabilidade dos investimentos, - criar uma estrutura de avaliação do impacto das medidas tomadas. 2. Desenvolver a produção nacional das PMEs - para consumo interno – reduzir a dependência nas importações, - para exportação – para angariar divisas e incrementar as receitas, - para criar postos de trabalho. 3. Atrair investimentos com perspectivas futuras sustentáveis - eliminar paraísos fiscais, - colocar ênfase em tecnologias de alto impacto nacional, - redefinir as estatísticas de crescimento económico/social. 4. Reduzir o desemprego e a desigualdade social - oferecer benefícios fiscais a empresas que criem postos de trabalho, - reduzir a desigualdade ocupacional e social da nossa população. 5. Incrementar a educação - para melhorar a competitividade, - para atrair postos de trabalho. 6. Incrementar o apoio à saúde e aos benefícios sociais - para melhorar a produtividade e a competitividade, - atrair postos de trabalho progressistas, - criar um ambiente de inter-apoio entre as diversas faixas etárias. Estes poderiam ser mais elaborados, mas para já partiremos deste conjunto de objectivos como base para uma análise mais detalhada e aprofundada mais tarde. Iniciativas necessárias para atingir estes objectivos 1. Criar uma política económica independente do crescimento do PIB - atingir a auto-suficiência económica e financeira, - fomentar o bem-estar social e a mais-valia social, - conservar o património natural e nacional, - incentivar a sustentabilidade dos investimentos, - criar uma estrutura de avaliação do impacto das medidas tomadas. Adicionar ao PIB medidas de: - bem-estar social, conservação do património natural, sustentabilidade dos investimentos, avaliação de impacto social; - medir e avaliar o progresso atingido usando metodologias existentes: http://www.ecologica.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&id=10&Itemid=8 http://en.wikipedia.org/wiki/Social_impact_assessment http://sroi.london.edu/Measuring-Social-Impact.pdf http://www.riseproject.org/Social%20Impact%20Assessment.pdf Retirar do PIB medidas que não representam crescimento real Como exemplo temos o aumento nas vendas de carros de assalto e equipamento policial que não é crescimento real mas apenas uma despesa em resposta a um crescimento na taxa de criminalidade. O aumento nas vendas de ambulâncias e outro equipamento clínico não é necessariamente crescimento real, mas apenas uma resposta ao aumento de patologias e/ou falta de apoio aos idosos e/ou população em geral. Estas medidas atraem investimentos de empresas com perspectivas futuristas e afastam empresas com perspectivas oportunistas do momento, ou do financiamento fácil, como a construção civil sem base nas necessidades sociais, empresariais e estatísticas demográficas. 2. Desenvolver a produção nacional das PMEs - para consumo interno – reduzir a dependência nas importações, - para exportação – para angariar divisas e incrementar as receitas, - para criar postos de trabalho. Criar polos de interação entre estabelecimentos de ensino e empresas - promover processos naturais de criatividade e sinergismos locais Criar polos de interação a nível de concelhos e freguesias com o mesmo fim 3. Atrair investimentos com perspectivas futuras sustentáveis - eliminar paraísos fiscais, - colocar ênfase em tecnologias de alto impacto nacional, - redefinir as estatísticas de crescimento económico/social. Acabar os paraísos fiscais Estes apenas protegem os ricos que não investem na economia real e reduzem a receita fiscal do país. Paraísos fiscais atraem capital especulativo que não tem perspectivas de futuro. Criar limites legais à extensão de julgamentos. Eliminar a prescrição e a liberdade de indivíduos com credibilidade duvidosa. 4. Reduzir o desemprego e a desigualdade social - oferecer benefícios fiscais a empresas que criem postos de trabalho - reduzir a desigualdade ocupacional e social da nossa população Proporcionar incentivos fiscais a empresas que criem postos de trabalho - Fomentar a indústria transformadora Retirar incentivos fiscais a empresas que não produzam riqueza local. - As empresas de investimentos na bolsa (que criam muito poucos postos de trabalho e não produzem riqueza real), - Aos supermercados que importam a maior parte dos seus produtos e criam poucos postos de trabalho a salários miseráveis, - A todas as empresas criadoras de endinheirados que não investem na economia real. Eliminar o financiamento dos partidos políticos com verbas públicas. - Todas as contas do estado são do domínio público e transparentes. Eliminar a porta rotativa dos políticos e empresários: - Eliminar os motoristas privados e dos departamentos do estado, - Estabelecer car-pools e mover estes motoristas para outros empregos. Embargar durante 3 anos a transição de altos funcionários do estado para cargos noutras instituições onde haja conflito de interesses. Limitar todas as reformas e ajustar anualmente segundo o índice do custo de vida. Impor mínimo de liquidez a todos os bancos e empresas financeiras. Criar recursos legais rápidos para que cidadãos suspeitos de fraude e criminalidade não sobrecarreguem o sistema jurídico. Suspender os seus cargos de imediato e impedir de concorrerem de novo. Criar transparência em todos os organismos e acordos. Eliminar condições contratuais que prejudicam o bom funcionamento das organizações e.g. o programa de Bolonha, que tem beneficiado muitos estudantes, está minado por condições de produtividade de alunos e professores que não beneficiam a qualidade do trabalhos dos mesmos. http://www.scielo.br/pdf/es/v31n110/14.pdf . Estas medidas criam confiança nos cidadãos e estabelecem um clima em que o mérito e o trabalho são remunerados e as tentativas de fraude ou crime, nem que muito bem encobertas, não compensam. O cidadão que sente que há justiça, ganha confiança e esforça-se por melhorar a sua vida e a dos seus. O cidadão desmoralizado deixa-se no queixume e atrofia. Com ele atrofia o país. 1. Incrementar a educação profissional e cívica - para melhorar a competitividade, - para atrair postos de trabalho dignos do ser humano, - proporcionar a participação activa do cidadão na política nacional e Europeia. Promover a educação política do cidadão e a sua participação activa nas causas de valor. Incentivar a educação como base fundamental de uma vida de valores humanos e não apenas cheia de salários altos e consumismo insustentável. 2. Incrementar o apoio à saúde e aos benefícios sociais - para melhorar a produtividade e a competitividade, - atrair postos de trabalho com futuro e fomentadores de progresso, - criar um ambiente de inter-apoio entre as diversas faixas etárias. A saúde e a educação são pedras basilares para um país próspero e orientado para o desenvolvimento, não necessariamente crescimento. O mundo está num estado de saturação com a exploração de recursos naturais. No passado dia 21 de setembro os habitantes da terra acabaram de usar todos os recursos que a Terra consegue produzir sustentavelmente em um ano. Estamos portanto em outubro a funcionar em hipoteca do ano 2012. É intencional que não haja aqui nada sobre crescimento económico, salários baixos, crescimento do PIB, grandes obras, ou financiamentos fáceis para produzir resultados a curto prazo. Um Portugal concentrado nessas preocupações tirou os olhos da bola e não é sustentável nos século XXI. O resultado está à vista. Precisamos de uma nova maneira de pensar, de um novo mind-set, foi isso que tentei fazer acima. Espero que seja material digno de avaliação, reflexão e elaboração. Se assim for, terei preenchido a minha ambição quando me agarrei a este enfadonho teclado “QWERT”, produto do século XIX. Fernando Aidos (comentários aos apelos e avisos de Cavaco Silva)
É pena que o Sr. Presidente tenha estado tão alheado e isento durante estes anos todos e só agora venha fazer avisos aos portugueses que já perderam a confiança nele e nos governantes. É pena que o Sr. Presidente não perceba que Portugal tem sido um país insustentável e que as tais medidas de crescimento não têm cabimento na conjuntura actual porque infelizmente agora só virando isto de pernas ao ar é que teremos uma chance de continuarmos a ser um país soberano. É pena que o Sr. Presidente não perceba que estes avisos são mais que desnecessários porque os portugueses estão mais que compenetrados de todos estes problemas e mais uns que não foram mencionados, como a corrupção e o desperdício. É pena que o Sr. Presidente tenha avisos mas não tenha ideias concretas limitando-se a papaguear o que os livros de economia da escola neo-liberal ensinam a quem os quiser ouvir. É pena porque estes avisos apenas indignaram os cidadãos que vão ter que pagar as contas dos incompetentes e inconscientes que fizeram despesas astronómicas à custa de empréstimos sem garantias, além de que depois os portugueses pagariam isto. É pena que o Sr. Presidente tenha perdido uma boa oportunidade de se aproximar dos portugueses, mesmo os que não o elegeram, ficando calado. Fernando Aidos E cá estamos nós, os cidadãos, we, the people, como reza a constituição dos Estados Unidos da América, numa situação de crise financeira e social da qual não parece haver saída. As soluções propostas parecem ser apenas mais do mesmo – gastam-se rios de dinheiro, endividam-se bancos e governos, e depois exige-se ao cidadão que pague com dinheiro e sacrifícios do seu dia a dia. Parece-me ilusório que se tente solucionar o problema com soluções e estratégias que foram as causas fundamentais desta crise, e com estratégias propostas pelos conhecidos protagonistas desta mesma crise.
Como sairemos então deste dilema? Usando movimentos de revolta social? É uma solução. Cada dia que passa, e para cada vez mais pessoas, esta parece ser a única saída, por assustador que a ideia nos pareça. Mas na atual conjuntura já há uma lista de países que o fizeram, e acredito que não sejam os últimos. É um alerta que todos nós devemos ouvir. Seja qual for a estratégia social e económica a seguir, temos de identificar os pontos fracos fundamentais do sistema económico e financeiro atual e analisar com minúcia os limites do mesmo sistema com o qual discordamos, nos debatemos e pensamos que tem de mudar. Regras do jogo Temos de mudar as regras do jogo. Temos de aceitar o facto de que as teorias económicas com que nos regemos foram enunciadas há mais de 200 anos. Nessa época os recursos naturais pareciam infindáveis. Estima-se que nessa altura os povos do mundo consumiam por ano aproximadamente 3% do que a Terra poderia suportar. Desde então as teorias fundamentais da economia não mudaram em essencialmente nada. Hoje os economistas e governantes continuam a assumir que os recursos naturais são infindáveis e que para todos estarmos melhor, há que haver mais crescimento económico. Dizem os economistas que quando não há crescimento económico o sistema não funciona. A economia tem de crescer e as agências de rating penalizam os que não crescem. O que esses peritos não nos dizem, é que esse mesmo crescimento económico medido pelo universal PIB nos trouxe ao consumo de 1,4 Terras por ano (140%). 1986 foi o último ano em que os habitantes da Terra consumiram num ano o que a Terra pode produzir nesse mesmo ano. 1986 foi, por assim dizer, o último ano sustentável da Terra. O que os políticos não realçam nos seus discursos e promessas eleitorais é que as atuais políticas económicas estão a funcionar em regime de hipoteca desde 1986. E agora apresentaram-nos a conta. Oportunidades de investimento Como disse o Mia Couto, há ricos e há endinheirados. Os ricos, os investidores a sério, os que são realmente necessários e úteis à sociedade, investem e criam riqueza. Esses são os Ford, os Westinghouse, os Porsche, os Gates, os Jobs, e muitos mais, esses sim. Esses foram e são ricos. Criaram e continuam a criar riqueza. Integraram-se na sociedade e no sistema económico de que fazem parte integrante. Os endinheirados porém não criaram nem criam riqueza para mais ninguém senão eles próprios. São como o tio do Pato Donald que arrecadava o seu dinheiro numa torre fora do alcance de todos apenas para se deleitar a tomar banho nele. Os endinheirados são os parasitas, os sanguessugas do sistema. Manipulam, especulam, aproveitam-se de oportunidades para enriquecer, para se endinheirarem, sem produzir riqueza palpável e muito menos postos de trabalho. O que os economistas e financeiros não nos dizem é que o sistema financeiro atual tem sido manobrado para favorecer os endinheirados, proporcionando-lhes grandes oportunidades de fazer fortuna a curto prazo em manobras financeiras de casino, em especulações de preços de bens, sem qualquer interesse em comprar seja o que for. O que os financeiros não nos dizem é que o retorno sobre estas especulações é ainda mais apetitoso para as bancas quando qualquer deslize acaba por ser financiado pelo cidadão. O que os governantes também não nos dizem é que não haverá investimentos que possam gerar quantidades significativas de postos de trabalho nem a estabilidade social que todos nós queremos e temos direito, enquanto o sistema financeiro favorecer os endinheirados e desfavorecer os investidores. O PIB Vale a pena rever uns tantos números e definições. O PIB (Produto Interno Bruto) mede a atividade económica do país, desde que haja faturas. A Taxa de Crescimento Real elimina certas influencias, como a inflação, e dá-nos uma melhor ideia do crescimento da economia. O PIB é hoje severamente questionado como medida real ou comparativa. Portugal é um país que consome e pouco produz. É um país de importações. Ao fim de 2011 teremos importado uma módica quantia de €52.000 milhões e teremos exportado cerca de €34.000 milhões, mais ou menos o que ocorreu em 2010. Embora tenha havido um período de crescimento entre 2003 a 2009, tanto nas importações como nas exportações, o histórico é de que Portugal importa 150% a 160% do que exporta. É de esperar portanto que Portugal tenha acumulado dívidas para com os seus fornecedores. Essa dívida atualmente ronda na casa dos €350.000 milhões. Perante estas cifras dizem-nos os peritos que é preciso fazer crescer o PIB para resolver a situação. Aliás, para satisfazer também, e principalmente, as agências de rating. É de notar que estas agências cabem na categoria de endinheirados. Não criam riqueza mas muito enriquecem um bom número de privilegiados. O que os peritos porém não nos dizem é como o PIB vai resolver o problema porque é de crer que se a atividade económica aumenta, atividade essa medida pelo PIB, as importações e as exportações crescerão na mesma proporção, e, no nosso caso, a dívida só pode subir mais. O que os governantes também não nos dizem é que todos os outros países andam em busca de mais crescimento e que já andamos a gastar 1,4 Terras por ano, se formos avaliados pela média mundial. Se formos avaliados pela média Europeia, estaremos na casa das 3 a 4 Terras. Exportações Uma solução que é ventilada muito frequentemente pelos economistas é o aumento das exportações. Portugal tem de exportar mais. Tem de ser criativo, como se a criatividade saísse assim dos bolsos sob ordem de despejo... Mas eu pergunto aos que não nos dizem tudo – Portugal tem de exportar mais? Ou tem de produzir mais e importar menos? Porque é que o ónus está a ser posto sobre os ombros dos que já produzem e exportam, os investidores, e não sobre os que não produzem, pelo que sabemos, os endinheirados, que só importam contraindo dívidas externas cada vez mais avultadas? Desperdício industrial Acho que todos nós, numa situação de crise, nos perguntamos imediatamente – onde posso deixar de comprar? Em que é que posso poupar mais? Mas não é assim em muitas das empresas mundiais. Digno de destaque são os supermercados. As práticas destes gigantes da economia são a causa de grandes desperdícios a todos os níveis da cadeia alimentar. Desde o agricultor, ao transportador, ao armazenista há desperdícios provocados por normas de qualidade de produto que só têm valor estético. Observe bem e diga se não é assim. O que os governantes nos dizem é que o novo supermercado irá trazer postos de trabalho e muita economia de tempo e dinheiro nas nossas tarefas de compra de produtos, principalmente alimentícios. O que os governantes não nos dizem é que os supermercados não produzem nada. Compram e vendem e impõem, devido ao seu poder de compra, termos contratuais de grande impacto negativo para a economia local. São uma concorrência impossível de superar pelas pequenas e médias empresas que continuam a fechar e a falir à nossa volta. Quanto aos postos de trabalho, acho que qualquer um de nós pode verificar que são poucos e pagam mal. Desperdício político Quis deixar para o fim este tema uma vez que é muito atual. Dizem os governantes e políticos que as grandes obras são para benefício da população e da economia. E algumas serão, mas acho que poucos serão capazes de quantificar esse benefício tão alardeado. Mas que algumas dessa obras, as de infraestrutura por exemplo, sejam de louvar, o que os governantes e políticos não nos dizem é quanto vão custar e como serão financiadas. Os portugueses só acabam descobrindo que custaram mais do que havia em caixa, mais do que estaríamos dispostos a pagar, depois do projeto, e agora o país, entrar em falência financeira. Se me tivessem dito quanto custariam todos aqueles impressionantes projetos de desenvolvimento da Madeira, antes de os começarem, eu teria dito que não, que não estou disposto a pagar porque o meu benefício não justificaria tal custo. Penso que a maioria dos portugueses e madeirenses concordarão comigo. O que os senhores destas grandes decisões também não nos dizem é que outros projetos poderíamos fazer com este mesmo dinheiro para que temas de grande necessidade como saúde, educação, segurança, e bem estar social, fossem levados a cabo. É de lembrar que a saúde e a educação, foram promovidas pelos grandes investidores e industriais depois dos primórdios tenebrosos da revolução industrial. A razão porque estes magnatas incentivaram e incrementaram estas iniciativas foi de interesse financeiro direto para as indústrias que geriam. Com saúde houve menos absentismo. Com educação houve operários e profissionais mais bem preparados para serem criativos e criarem riqueza. A sociedade beneficiou e aprendeu muito com esta rica lição de gestão. Mas a lição parece ter sido esquecida no turbilhão do canibalismo económico que hoje presenciamos. É triste e muito prejudicial para todos. Só os endinheirados é que não se preocupam, esses que o atual sistema protege e aos quais se verga. Fernando Aidos Há perspectivas diferentes sobre como interpretar a economia de um país, e em especial a economia de Portugal, aquela que nos diz respeito neste momento difícil, afectado por crises económicas, troikas, e outros factores que pairam nos ares da sociedade mundial.
Mas vamo-nos concentrar em duas perspectivas apenas. A primeira, a perspectiva mais divulgada, diz que a economia é um conjunto de acções e intercâmbios, portanto números e estatísticas, dirigidos por uma mão invisível que nos guia no caminho do benefício comum como resultado final. E portanto, se todos actuarmos para o nosso benefício individual, não há problema porque no fim tudo irá dar certo. Cada um puxa para seu lado e o resultado final será sempre uma melhoria para todos. Acho que essa mão invisível não existe mas há quem ainda acredite nela. Entre estas pessoas encontram-se dirigentes políticos, dirigentes de instituições financeiras, e a grande maioria dos economistas que aconselham estes dirigentes e/ou dão opiniões em público sobre como dirigir a economia do país. Esta perspectiva tem sido muito debatida agora que estamos envolvidos numa crise a nível global. Ao longo dos anos esta perspectiva tem dado origem a muitas teorias, fórmulas, gráficos e relacionamentos de causa e efeito que se baseiam no conceito do homem económico, esse ser humano que toma decisões tendo sempre em vista o factor económico das suas decisões. Como podemos constatar pela informação (ou des-informação) que recebemos todos os dias, esta perspectiva da economia dá origem a uma numerologia quase que sagrada. Temos ouvido, por exemplo, dizer que o IVA vai aumentar e por isso a receita do Estado subirá alguns pontos percentuais, assim sendo, o défice baixa, e a troika aprova. E ficaremos todos, depois deste sacrifício chamado de temporário, muito melhor que antes destas iniciativas dolorosas para alguns. Pode ser, mas acho que de momento manterei em suspenso a minha avaliação... A outra perspectiva, menos divulgada, mas que tem sido também muito debatida, tendo ganho adeptos de renome, é que a economia é o resultado das acções e intercâmbios feitos entre indivíduos, bem ou mal informados, que actuam para defender os seus bens, económicos e não-económicos a fim de melhorar as suas condições de vida. Aqui não há mão invisível. Aqui há seres humanos actuando na sua plenitude. Por vezes de um modo lógico, e outras não tão lógico. Por vezes sendo racional e por vezes deixando as emoções dominarem a situação. Mas sempre a tentar melhorar a sua vida e a dos seus entes queridos tirando partido das oportunidades, mas também a defender-se das actividades, leis e regulamentos que o podem prejudicar. Nesta perspectiva temos o ser humano no seu melhor, no seu mais completo ser. Tirando partido das oportunidades e defendendo-se dos efeitos nefastos. Todos sabemos que as transações sem factura não pagam IVA. Passam a ser, como recentemente me disse um amigo meu, transações sem fatura, sem “c”. É o ser humano a defender-se da melhor maneira que pode das forças sobre as quais ele não tem controle. Chamamos a isto desenracanço, mas eu chamo-lhe de criatividade. Um economista, um político ou um financeiro criticaria esta acção, mas um sociólogo diria que seria de esperar. Assim como é de esperar que, por tabela como se costuma dizer, o mercado negro, o mercado ilícito, o mercado não contabilizado, que hoje em Portugal é estimado ser entre 25% a 30% vá aumentar para um número mais alto. Olhando para o contribuinte como um ser humano mais do que apenas económico, a questão deixará de ser se as transações sem fatura vão aumentar ou não. A questão deve ser se este aumento vai ou não contrariar os efeitos esperados pelos dirigentes, nacionais e estrangeiros, em relação ao aumento do IVA. Usei o IVA apenas como exemplo. Esta perspectiva pode ser aplicada a todos os benefícios ou cargas fiscais, económicas ou sociais que hoje estão a ser alterados ou manipulados de um modo nada compatível com o ser humano tal como ele é na sua totalidade. Português ou não. Fernando Aidos Os recentes acontecimentos violentos na Inglaterra têm acirrado o debate sobre criminalidade e mal-estar social. Não defendo a criminalidade nem a violência como solução para qualquer mal. Nem político, nem económico, nem social. Nem por grupos de qualquer faixa etária, nem por nações. Mas, como muitas outras pessoas debruçadas sobre o problema, penso que o actual mal-estar social é um facto que tem sido muito ignorado pelos políticos e mesmo pelas organizações que têm como propósito na vida cuidar desse mal-estar.
O site http://networkedblogs.com/lOakg publicou um artigo entitulado The Pursuit of Happiness: Can We Have an Economy of Well-Being? escrito por Carol Graham, onde a autora aborda o tópico da felicidade, como indicador do bem-estar social, e levanta a pergunta de como integrar o conceito de felicidade e de bem-estar social nas agendas políticas dos países e nas estatísticas económicas. A felicidade é um conceito difícil de definir porque está associado a factores económicos, étnicos, culturais, entre outros, e em grande parte é determinado pelo conceito que a felicidade é um sentimento de capacidade de tirar partido das oportunidades existentes permitindo aos cidadãos conduzirem uma vida que faça sentido, uma vida com significado, como costumamos dizer. É mais fácil medir percentagens de mortalidade, de morbidez, de criminalidade, de escolaridade, de despesas estatais, de crescimento económico, de importações e exportações e por isso as estatísticas que se publicam seguiram, ao longo dos anos, o caminho mais fácil de medir o estado do país, por meio destas, desligando dessas estatísticas o bem-estar das populações, bem-estar esse que, em grande parte contribui para os números obtidos nas estatísticas acima mencionadas. E a pergunta que Carol Graham deixa de pé é – como avaliar a felicidade social para que possa ser usada na governação de uma nação? Tenho acompanhado o problema da felicidade, do bem-estar social, ao longo da minha carreira profissional. Não só como cidadão, mas também como dirigente de organizações e equipas de profissionais com o fim de atingir os objectivos da empresa, sem criar grandes infelicidades nas vidas dos participantes. Equilíbrio este que aprendi ser o melhor método de viver uma vida profissional e atingir os objectivos de produtividade exigido pelos donos das empresas. Não tenho porém notado que tenha havido grande esforço em dividir esse conceito complexo que é a felicidade, o bem-estar social, em partes que se possam definir e até medir. A grande tendência que tenho notado é de tentar chegar a uma definição única, abrangente, e sem dúvida complexa, que não será fácil de por em termos práticos. Mas porquê? Porque não partir da premissa que a felicidade é um sentimento de capacidade de tirar partido das oportunidades, permitindo que os cidadãos conduzam as suas vidas com sentido, com significado. Sendo assim, para que é que estamos a tentar reinventar a roda, como se costuma dizer, e porque não partir de um modelo já conhecido, a Pirâmide de Maslow, de que já se falou há pouco? Porque não fazer uma afirmação talvez chocante para muitos, e dizer que a capacidade de satisfazer as nossas necessidades básicas (como Maslow as define) constitui a felicidade? Nem que seja para iniciar a conversa num novo plano. Acho que esta abertura não é assim tão estranha quanto possa parecer à primeira vista. Vejamos. Se eu estiver com fome, com medo, sem auto-estima, sem afinidades com os meus pares ou queridos, qualquer um destes factores vai reduzir a minha felicidade, e o meu gosto pela vida. Mas que efeito então poderá ter tudo isto na gestão de um país através das suas políticas governamentais? Vamos supor que o preço dos produtos alimentícios sobe (os impostos subiram e já não se cultiva aqui, vem de fora) ao ponto em que eu tenho de fazer sacrifícios no meu cesto de compras semanal... o meu bem-estar baixa. Ou que as pessoas sentem que não têm oportunidades (baixa em qualidade na educação) para obter um emprego (desemprego originado por decisões fiscais que facilitaram a fuga de fundos e postos de trabalho) e que essas pessoas não são felizes ao ponto de praticarem resistência passiva (absentismo, originando perda de productividade) ou mesmo violência física (requerendo mais despesas em polícia, e segurança nacional... em regra reduzindo despesas com as escolas e os serviços médicos). A regra actual é que isto tudo é medido em termos de índices de consumo (crescimento económico), sucesso escolar, productividade, dívida estatal, dívida externa, despesas em segurança (carros blindados) e defesa nacional (mais uns submarinos). Mas eu pergunto, não estão estes factores todos actuando de modo negativo na felicidade, no bem-estar dos nossos amigos, colegas, familiares? Se não está, então o que é que está? Este raciocínio pode ser aplicado a todas as camadas da Pirâmide de Maslow de modo a criar um conceito simples e claro (todos os cidadãos necessitarão de compreender o conceito) de felicidade, e bem-estar social, e um conjunto de elos de ligação entre as estatísticas económicas, dívidas externas, e as decisões políticas, fiscais e económicas que por sua vez podem ser traduzidas em acção política e governamental, e finalmente medidas em termos de bem-social, de felicidade. É hora de tomarmos este rumo, e eu acredito que não é complicado como alguns pensadores pretendem que seja. E porque estes aspectos todos se influenciam de forma circular e contínua, uns alimentando, positiva ou vegativamente, os outros, seremos um povo mais feliz, mais criativo, mais rico e menos ausente das nossas responsabilidades cívicas. Fernando Aidos |